O 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em abril, revela que as mulheres no Brasil continuam recebendo, em média, 21% a menos que os homens. Os dados, que analisam 19 milhões de vínculos empregatícios nos 53.014 estabelecimentos com 100 ou mais empregados, apontam que, apesar do aumento da presença feminina no mercado de trabalho, a desigualdade salarial permanece.
De acordo com o relatório, a disparidade salarial, que em 2023 era de 20,7%, aumentou para 20,9% em 2024. No entanto, a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Coimbra Soares, observa que a região de Caxias do Sul apresenta uma discrepância menor do que a média nacional, com uma diferença salarial em torno de 18% a 19%.
Lodonha explica que essa desigualdade tem raízes históricas e está diretamente ligada a fatores culturais e estruturais de uma sociedade patriarcal. Conforme a pesquisadora, “a mulher, desde muito tempo, foi condicionada a funções domésticas e de cuidado, enquanto o homem era incentivado a trabalhar fora. Isso refletiu na formação de uma mão de obra feminina mais escolarizada, mas que ainda enfrenta barreiras no mercado de trabalho”.
Segundo a pesquisadora, embora a disparidade salarial tenha diminuído ao longo dos anos, ela ainda persiste em diversas áreas, com poucas mulheres ocupando cargos de liderança e decisões estratégicas. Além disso, a sobrecarga das mulheres com tarefas domésticas e o cuidado dos filhos também impacta sua ascensão profissional.
A pesquisadora ressalta que, apesar do avanço em algumas regiões, as políticas públicas voltadas para a igualdade de gênero no trabalho precisam ser mais eficazes e de longo prazo para promover uma mudança substancial. “A luta é contínua, e as mulheres ainda enfrentam desafios, mas as perspectivas de avanço são positivas, embora o processo seja lento”, conclui.