O diretor executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), Hélio Marchioro, foi categórico ao traçar esse prognóstico preocupante, para o setor produtivo. Em especial, pela suposta falta de condições para a devida permanência da agricultura familiar, no campo. Conforme Hélio, o setor sofre com a falta incentivos fiscais, situação que, a médio prazo, poderia favorecer o êxodo rural, como já aconteceu no passado, quando família inteiras migraram para os grandes centros, a procura de emprego. E que essa situação seria fruto de uma herança político-econômica defasada. Portanto, na opinião do entrevistado, enquanto não houver equidade para a produção no campo, ou seja, com taxas de juros reduzidas, a agricultura familiar continuará sofrendo com esses reveses, num setor que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa 76,8%da produção nacional.
Conforme Hélio Marchioro, isso acabará repercutindo, mais cedo ou mais tarde, na mesa do consumidor, ante a queda na produção. Situação que se desenha, já no cenário atual, e obriga consumidores a rever hábitos de consumo, pois o salário não acompanha a alta dos preços. No Rio Grande do Sul, segundo o diretor da Fecovinho, a situação seria ainda mais crítica, pois o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) que incide sobre alguns produtos daqui, a exemplo do vinho e do suco de uva chegaria a 17%. Ou seja, essa alta carga tributária geraria uma desvantagem competitiva para o produtor gaúcho, principalmente, pensando em mercado consumidor interno. Além disso, segundo Hélio, os recentes episódios de enchentes no Estado comprometeram, e muito, diversos segmentos produtivos e isso traz dificuldades adicionais para os agricultores gaúchos.
Neste sentido, a Fecovinho aproveitou a visita do vice-presidente da Repúlbica, Geraldo Alckmin (PSB), a Caxias do Sul, na última segunda-feira (27), para entregar uma série de reivindicações, que poderiam reverter esse quadro. Em especial, pedindo que o Governo Federal reveja a questão tributária, pois o teto de recursos, que eram disponibilizados e foram ampliados, no ano passado, pelo governo, que era de R$ 15 milhões e passou para R$ 30 milhões, a juros de Pronaf, não foi capaz de subsidiar a permanência dos agricultores no campo, inclusive, quando se pensa na produção de proteína animal. Nem mesmo, o Plano Safra, pois como ele é anual, não resolve o problema, ainda que tenha trazido um respiro para o setor.
Na opinião do diretor da Fecovinho, o produtor rural precisa contar uma taxa de juros menor e com flexibilização no pagamento, situação que estimularia a produção local, inclusive, do suco de uva. Mas, para isso, seria preciso romper alguns aspectos estruturantes da economia brasileira, muito pensado, atualmente, para a monocultura, pois isso garantiria uma vida mais digna para a agricultura familiar. Contudo, isso só será possível, a partir de uma profunda reflexão sobre as relação de consumo já estabelecidas. Até porque, o setor contribuiu, e muito, com a geração de emprego no país e, portanto, para a economia nacional.