O aumento expressivo de 180% no preço do cacau nos últimos dois anos está afetando diretamente o mercado de chocolates, especialmente no período da Páscoa. A alta foi impulsionada pela quebra de safra nos grandes produtores africanos, como a Costa do Marfim, que enfrentam ondas de calor e seca. Esse cenário gerou uma escassez da matéria-prima, impactando a produção e elevando os preços dos produtos de chocolate, uma tendência que começou a ser observada no segundo semestre de 2024.
Márcio Ferronatto, proprietário da Ferronatto Chocolates Finos, em Caxias do Sul, explicou em entrevista à Rádio Caxias que a escassez de cacau foi agravada por fenômenos climáticos na África, que responde por 70% da produção mundial. Isso gerou um impacto profundo nas margens de lucro das empresas de chocolate. “O aumento no custo da matéria-prima afetou diretamente o setor, o que gerou grandes desafios para as empresas”, destacou Ferronatto.
Apesar das dificuldades, Ferronatto vê perspectivas positivas para a produção de cacau no Brasil, atualmente o sexto maior produtor mundial. O aumento dos investimentos em áreas não tradicionais, como o Espírito Santo outras regiões, está impulsionando a recuperação da produção. Além disso, o Brasil tem investido no processamento interno do cacau, agregando mais valor ao produto e ajudando a reduzir a dependência das importações da África.
Embora os preços estejam altos, a Ferronatto Chocolates Finos tem buscado alternativas para manter a qualidade sem recorrer a substitutos, como a manteiga de cacau sintética, usada por grandes indústrias. “Mantemos 38% de derivados de cacau nos nossos chocolates, garantindo a qualidade que os nossos consumidores esperam”, afirmou Ferronatto. A empresa também adotou estratégias de diversificação de produtos e renovação de embalagens, que têm apresentado bons resultados, permitindo à marca manter preços competitivos.
No setor de ovos de Páscoa, estima-se uma redução de 20% na produção devido ao aumento de custos, mas a contratação de trabalhadores temporários deve crescer 26%, refletindo a adaptação das empresas ao cenário desafiador. No Brasil, os preços dos ovos de chocolate aumentaram, em média, 14%, enquanto produtos como bombons e colombas tiveram alta de cerca de 5%.
Apesar dos desafios, o mercado de chocolate continua aquecido, com os consumidores mantendo o consumo de produtos de Páscoa, mesmo com os preços mais altos. Ferronatto acredita que, com as estratégias adotadas, a Páscoa deste ano será equilibrada, com vendas semelhantes às de 2024. “Com as adaptações feitas, esperamos uma Páscoa estável e positiva para nossos negócios”, concluiu o empresário.