João Ignácio Pires Lucas — doutor em Ciência Política e professor da Universidade de Caxias do Sul — destaca que a crescente influência de blocos liderados pela China e Rússia está colocando em xeque a hegemonia econômica dos Estados Unidos. Ele avalia que o fortalecimento das relações entre esses países e nações do Sudeste Asiático e Norte da África — além da recente mudança na política da Arábia Saudita, que começou a vender petróleo fora do dólar — como um movimento que sinaliza um novo padrão nas dinâmicas econômicas globais.
Segundo Lucas, essa ascensão de novos blocos, como o Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), desafia a liderança histórica dos Estados Unidos, que há décadas detinha o papel central na economia global. Conforme o entrevistado, a relação crescente entre China e Rússia, que inclui pactos estratégicos e comerciais, reflete a ampliação de uma rede de influências que desafia a ordem mundial dominada pelos EUA e seus aliados.
A mudança no comportamento da Arábia Saudita, tradicionalmente alinhada aos interesses americanos, ao vender petróleo em outras moedas, é vista por Lucas como um indicativo da transformação nas estruturas econômicas globais. Segundo o doutor em Ciência Política, esse movimento enfraquece a posição do dólar como moeda de referência internacional, algo que por muito tempo foi um dos pilares da hegemonia econômica dos Estados Unidos.
Lucas também observa que o Brasil, apesar de sua proximidade histórica com os Estados Unidos, está cada vez mais imerso nas novas articulações políticas e econômicas promovidas pela China e Rússia, o que coloca o país em uma posição estratégica de equilíbrio. O cientista político alerta que, com a ascensão desses novos blocos e a busca por uma ordem mais multipolar, os Estados Unidos enfrentam desafios significativos para manter sua influência no cenário global.