A morte de um bebê durante um parto no Hospital Centenário, em São Leopoldo (RS), está sendo investigada pela Polícia Civil e trouxe à tona, mais uma vez, a discussão sobre a violência obstétrica no país. Duas médicas envolvidas no atendimento foram afastadas e devem ser ouvidas como testemunhas ainda nesta semana. A investigação busca esclarecer se a equipe médica seguiu os protocolos adequados durante o procedimento. A mãe da criança recebeu alta nesta terça-feira (15).
O caso, ocorrido justamente na semana em que se celebra o Dia do Obstetra (12 de abril), reforça a urgência de discutir a violência obstétrica — uma realidade vivida por muitas mulheres brasileiras, incluindo figuras públicas como a jornalista Patrícia Poeta, as atrizes Klara Castanho e Carolinie Figueiredo, e a influenciadora Shantal, que já compartilharam relatos sobre experiências traumáticas durante o parto.
A violência obstétrica pode ocorrer durante a gestação, o parto ou o pós-parto, manifestando-se de várias formas: desde procedimentos realizados sem o consentimento da paciente, intimidações verbais, até negligência no atendimento. Segundo a ginecologista Erica Rosa Salet, diretora técnica da Unimed Serra Gaúcha, “a paciente deve ser respeitada e informada sobre qualquer procedimento. A autonomia da mulher deve ser preservada em todas as etapas do cuidado.”
Histórias como as de Izaulina Seefeld, de 68 anos, que relata ter passado por episiotomias e manobras agressivas sem explicações durante partos nos anos 1980, e de Paola Vieira, de 29 anos, que sofreu uma cesárea de emergência após negligência médica, ilustram como a violência obstétrica atravessa gerações. “Foi um trauma físico e emocional”, resume Paola.
Dados indicam que uma em cada quatro brasileiras já sofreu algum tipo de violência obstétrica, especialmente no momento do parto. Os casos mais frequentes envolvem a realização de procedimentos dolorosos sem explicação ou autorização da paciente, além da ausência de acolhimento durante esse momento sensível.
Embora o Brasil ainda não tenha uma legislação específica que defina legalmente a violência obstétrica, diretrizes publicadas pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), em 2019, orientam práticas humanizadas e seguras. As denúncias podem ser feitas junto aos hospitais, secretarias de saúde, conselhos profissionais — como o CRM e o Coren/RS — ou por meio dos canais 180 (Central de Atendimento à Mulher) e 136 (Disque Saúde).
A repercussão do caso no Hospital Centenário serve como alerta: é preciso garantir o direito das mulheres a um parto seguro, informado e respeitoso. No Dia do Obstetra, a reflexão sobre práticas humanizadas no atendimento é mais necessária do que nunca.