De acordo com um estudo divulgado, recentemente, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os gastos públicos com tratamentos relacionados ao alcoolismo no Brasil atingem R$ 1,1 bilhão anuais. O valor inclui despesas diretas com hospitalizações, procedimentos ambulatoriais e outros serviços de saúde vinculados ao uso do álcool, como o tratamento de doenças do fígado, pâncreas, cardiovasculares e diversos tipos de câncer. Além disso, transtornos mentais, acidentes de trânsito e violências interpessoais também estão entre as consequências do abuso do álcool.
No entanto, os custos não se limitam a esses tratamentos diretos. Os chamados gastos indiretos, como a perda de produtividade no trabalho, licenças médicas, aposentadorias precoces e mortes prematuras, somam mais R$ 17,7 bilhões ao impacto financeiro total causado pelo consumo de bebidas alcoólicas. Com isso, os custos diretos e indiretos do alcoolismo representam R$ 18,8 bilhões, o que corresponde a 8,6% do orçamento da saúde de 2024 e a 61,6% do valor destinado ao SUS para a ampliação do atendimento até 2026.
Em entrevista para a Rádio Caxias, a psicóloga e especialista em dependência química Gabriela Henrique, diretora da Psicuide Clínica e Consultoria, ressaltou a complexidade do tratamento do alcoolismo, afirmando que ele vai além do simples controle do consumo de álcool. Para ela, é fundamental que as pessoas compreendam a profundidade do problema e busquem apoio, como o oferecido pelos Alcoólicos Anônimos (A.A.), movimento de mútua ajuda que funciona como uma irmandade entre aqueles que desejam abandonar o alcoolismo.
“A recuperação em A.A. é individual, apesar de ser feita em grupo. O movimento ajuda na manutenção da sobriedade e permite que cada pessoa conquiste, um dia de cada vez, o objetivo de não beber mais. O anonimato, muito defendido por A.A., é um dos pilares que garante que ninguém precise temer a exposição pública, o que poderia ser um grande obstáculo para quem deseja procurar ajuda”, explicou Gabriela Henrique.
A especialista também destaca a importância de combinar tratamentos psicológicos, como a terapia cognitivo-comportamental e a psicologia positiva, com o apoio de grupos como o A.A. Segundo ela, a combinação dessas abordagens tem mostrado bons resultados no tratamento e na manutenção da abstinência, além de uma significativa redução nas taxas de recaída.
Gabriela ainda acrescenta que a conscientização sobre os prejuízos do alcoolismo, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, é crucial. “Muitas pessoas não param para pensar nas perdas financeiras e pessoais que o alcoolismo traz. O primeiro momento de prazer ao consumir a bebida pode parecer inofensivo, mas os custos – muitas vezes elevados e irreversíveis – podem aparecer rapidamente. Isso é algo que devemos refletir e divulgar para prevenir novas perdas”, enfatiza.
O alcoolismo, como ressalta a psicóloga, é uma doença que altera a neuroquímica cerebral e não tem cura definitiva, mas pode ser controlada com o tratamento adequado, acompanhamento psicológico, uso de medicamentos e a participação em grupos de apoio. Mesmo com a ausência de uma solução mágica, a recuperação é possível, e muitas pessoas têm transformado suas vidas ao buscar ajuda profissional e apoio mútuo.
Este panorama financeiro e social do alcoolismo serve como um alerta para o impacto que essa dependência tem não apenas na vida das pessoas afetadas, mas também nos custos para o sistema público de saúde. É fundamental que o debate sobre prevenção, tratamento e reabilitação do alcoolismo ganhe ainda mais espaço, a fim de reduzir os danos à saúde e à economia do país.