Em entrevista à Rádio Caxias, na manhã desta segunda-feira (21), o bispo diocesano de Caxias do Sul, Dom José Gislon, refletiu sobre o legado deixado pelo Papa Francisco, falecido nesta madrugada, aos 88 anos. Para Dom José, o pontificado de Francisco, iniciado em 2013, marcou profundamente a história da Igreja e da humanidade.
Apesar de não ter sido um dos mais longos pontificados, Dom José classificou a liderança de Francisco como “muito marcante”, destacando a forma com que o Papa conduziu a Igreja com olhar atento às periferias do mundo, aos povos mais pobres e aos temas contemporâneos. “Ele levou para o pontificado a experiência pastoral latino-americana e o olhar sobre uma sociedade construída por imigrantes e marcada por desigualdades sociais”, afirmou o bispo.
Entre os muitos marcos do pontificado, Dom José citou a forte presença de Francisco nas periferias geográficas e existenciais do mundo, sua atuação durante a pandemia de Covid-19 — com a imagem simbólica do Papa caminhando sozinho sob chuva na Praça de São Pedro —, e suas duras críticas à “cultura do descarte” e ao consumismo que exclui os mais pobres.
Dom José também destacou a reforma da Cúria Romana como um dos legados mais significativos de Francisco. “Ele extinguiu antigas congregações, criou dicastérios, abriu espaço para a presença feminina em cargos de liderança dentro da Igreja”, ressaltou. Além disso, o Papa deu continuidade à política de “tolerância zero” contra abusos na Igreja, obrigando dioceses do mundo inteiro a criarem comissões de proteção de menores e vulneráveis.
Outro aspecto ressaltado foi a preocupação ecológica e o cuidado com a “casa comum”, manifestado especialmente na encíclica Laudato Si’ e no Sínodo para a Amazônia. “Ele foi um Papa que escutou o povo de Deus, que quis um Sínodo feito não só de cima, mas também a partir da base”, disse Dom José, sublinhando o caráter sinodal e participativo da gestão de Francisco.
A simplicidade do pontífice também se refletiu nos seus últimos desejos. Francisco pediu para ser sepultado fora do Vaticano, reforçando o que foi uma constante em sua vida: o apelo pelos pobres e pela humildade. “Não esqueçam dos pobres”, relembrou Dom José, ecoando as palavras de Dom Cláudio Hummes no momento da eleição de Francisco.
Questionado sobre o futuro da Igreja e a escolha do novo Papa, Dom José acredita que o conclave será guiado pelo Espírito Santo, mas espera que o novo pontífice siga a linha de abertura e diálogo com o mundo contemporâneo. “Temos que olhar para a realidade da Ásia, da África, da Europa em crise espiritual… O novo Papa precisa ter sensibilidade para essas realidades e continuar conduzindo a barca de Pedro com espírito missionário”, completou.
O funeral de Papa Francisco será realizado nos próximos dias, e está sendo organizada a participação de chefes de Estado e cardeais do mundo todo. O conclave para escolha do novo Papa deve ocorrer antes do dia 25 de junho, data tradicional da peregrinação dos bispos a Roma, em honra a São Pedro e São Paulo.
Dom José finalizou com um pedido de oração: “Rezemos pelo repouso da alma do Papa Francisco, e para que o Espírito Santo conduza a Igreja neste momento tão importante da sua história”.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista dada pelo bispo diocesano de Caxias do Sul, Dom José Gislon