Mesmo com a sensação generalizada de que os ovos de Páscoa estão cada vez mais caros, um olhar atento sobre os números revela que o valor segue proporcional ao salário mínimo — pelo menos desde da década de 1990. A afirmação é do economista Mosar Leandro Ness, que comparou o preço cobrado por um de um ovo de 240 gramas em 1995 e atualmente.
Segundo Ness, há 30 anos, um ovo desse tamanho custava R$ 3,89 — enquanto o salário mínimo era de R$ 100 — ou seja, cerca de 3,89% do rendimento mensal. Atualmente, o mesmo ovo custa em torno de R$ 60, com o salário mínimo em R$ 1.520, o que representa aproximadamente 3,95%. “O que se pode afirmar é que os fabricantes vêm mantendo uma proporção estável no valor relativo dos ovos de Páscoa, quando comparado ao salário mínimo”, explica o economista.
No entanto, ele alerta que essa estabilidade nos números esconde mudanças significativas na composição e na qualidade dos produtos. O peso médio dos ovos caiu — hoje muitos pesam 200 gramas — e a formulação também mudou. “Antes, se usava mais cacau. Hoje, usa-se mais gordura vegetal e açúcar. O resultado é um produto mais calórico e com qualidade inferior”, afirma.
Enquanto o debate sobre preços e qualidade segue nas redes sociais, o mercado tem apostado em inovação para se destacar no período. Produtos criativos e personalizados vêm ganhando espaço e conquistando consumidores em busca de experiências diferenciadas.
Na Tropino Gelateria de Semifreddo, por exemplo, a aposta para esta Páscoa foi o inusitado ovo no palito, que une casquinha de chocolate e recheio de semifreddo. A proprietária, Rachelle Morés, conta que “queria algo que tivesse a identidade da Tropino, e surgiu a ideia de fazer um ovo que pudesse ser degustado como um picolé, combinando o crocante do chocolate com a cremosidade do nosso recheio gelado”. A novidade está disponível em três sabores: baunilha com doce de leite, flocos com pistache caramelizado e brigadeiro 100% cacau com chocolate meio amargo — e, segundo ela, o sucesso tem sido tanto que há risco de esgotar antes do feriado.
A inovação também chegou ao mercado Pet. Na Dogue Bakery, os ovos de Páscoa foram adaptados para agradar cães — e seus tutores, que buscam produtos saudáveis e funcionais. A confeiteira Taís Pistore aposta em ingredientes naturais como alfarroba, carnes frescas e melado, sem adição de açúcar ou conservantes. “Cada vez mais, os tutores se preocupam com o que oferecem. Querem algo bonito, sim, mas que também faça bem para o animal”, afirma. Os ovos são feitos sob demanda e refrigerados, já que não levam conservantes. Segundo ela, a Páscoa também pode ser uma oportunidade de criar momentos afetivos com os pets. “Quando o tutor presenteia com algo feito especialmente para o animal, isso reforça o vínculo. É um carinho em forma de petisco”, diz.
Contudo, é preciso ficar atendo ao consumo exagerado de chocolates no período, o que pode ser prejudicial para a saúde, garante a pediatra neonatologista cooperada da Unimed Serra Gaúcha, Liliane Spinelli. Segundo a pediatra, o consumo de chocolate na Páscoa é uma tradição antiga, mas problema está no excesso de açúcar ingerido, em especial, no caso das crianças. Pois, elas tendem a preferir doces, o que pode levar à substituição de alimentos saudáveis e resultar em problemas como obesidade, diabetes, anemia e colesterol alto. Além disso, conforme Liliane, o açúcar pode causar agitação e insônia. Por isso, a recomendação da pediatra é consumir chocolate com moderação, preferindo versão com mais cacau na formulação e menos açúcar e gorduras.
Assim é possível aproveitar essas delícias, sem abrir mão da saúde. Além disso, mesmo que os preços causem estranhamento à primeira vista, os dados mostram que a relação custo-benefício se manteve estável ao longo do tempo. E, entre os tradicionais ovos de supermercado e as novas criações recheadas de afeto e sabor, a Páscoa segue como um período fértil em experiências — e, claro, chocolates.