O programa anunciado pelo Governo Federal, que entrou em vigor no último dia 21 de março, intitulado Crédito do Trabalhador, autoriza o crédito consignado para 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada, incluindo empregadas domésticas, trabalhadores rurais e funcionários de microempreendedores individuais (MEI). De acordo com dados emitidos pelo DataPrev ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), somente nos sete primeiros dias, o programa já havia ultrapassado R$ 1,28 bilhão em empréstimos.
Na prática, para solicitar a análise do empréstimo, que oferece juros mais baixos, o trabalhador deve enviar os dados como nome, CPF, salário e tempo de empresa diretamente no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital. Após a análise, ofertas de diferentes instituições financeiras são disponibilizadas em até 24 horas, caso o pedido seja aprovado, permitindo que o trabalhador escolha a proposta que melhor atenda às necessidades.
Contudo, as parcelas do empréstimo são descontadas diretamente na folha de pagamento do trabalhador, com uma margem de até 35% do salário. Em caso de demissão, a quitação do empréstimo é garantida por meio do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), podendo ser utilizado até 10% dos valores disponíveis ou até mesmo 100% da multa rescisória. Assim que o trabalhador inicia um novo vínculo empregatício, os valores voltam a ser descontados em folha.
O economista Mosár Leandro Ness avalia o empréstimo como um risco para o trabalhador, argumentando que o crédito consignado, como está sendo oferecido, compromete uma parte significativa da renda. Com a renda comprometida e a inflação projetada para continuar alta, a tendência é que o orçamento do trabalhador se torne ainda mais apertado, tornando o empréstimo uma opção não benéfica. Ele ressalta que a facilidade na obtenção do crédito, por meio de aplicativos que disponibilizam o dinheiro rapidamente, pode induzir o trabalhador a cometer um erro financeiro.
Mosár também destaca que a garantia do empréstimo, no caso de demissão, ser o FGTS é um fator preocupante, já que ao utilizar esses recursos para quitar a dívida, o trabalhador perde a reserva de emergência, essencial em tempos de necessidade.
Até o dia 27 de março, foram firmados 193,7 mil contratos e enviadas 11,6 milhões de propostas de crédito. O valor médio do empréstimo por trabalhador foi de R$ 6.623,48, com parcelas de R$ 347,23 por 19 meses, em média. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil foram responsáveis por cerca de 85,9% das operações, sendo que somente o Banco do Brasil concedeu mais de R$ 600 milhões em empréstimos, atendendo mais de 3 mil municípios.